Caminhão com corpos de crianças não foi apreendido no México

Notório por propagar notícias falsas na internet, sobretudo envolvendo o juiz federal Sergio Moro (leia aqui e aqui), o blog Sociedade Oculta importou nos últimos dias uma mentira que circulou com força no México em dezembro do ano passado: “Polícia prende caminhão cheio de corpos de crianças sem órgãos”.

Assim como indignou milhares de mexicanos, a lorota tem causado o mesmo efeito em grupos de WhatsApp e em perfis no Facebook de brasileiros. Publicada no blog na última terça-feira, a notícia falsa foi compartilhada cerca de 434.000 vezes em redes sociais e no aplicativo de mensagens até o momento.

Veja abaixo o que diz a mentira:

Recentemente houve um alerta de raptores de crianças no Brasil, após uma onda sumiço de crianças este ano, coincidentemente no mesmo período em que a novela Senhora do Destino foi reprisada .no [sic.] mês de maio e junho e julho .. [sic.] E ainda tem gente que não acredita em quadrilha internacional de roubos de crianças … [sic.] veja [sic.] oque aconteceu no Mexico… todos [sic.] devem ficar atentos.. [sic.] provavelmente é a mesma que começou a agir no Brasil . [sic.]

Um caminhão foi preso em uma operação realizada pela polícia militar, que ao avistar o veículo pediu para o mesmo parar, para que eles pudessem avaliar a carga.

Mas o motorista ficou nervoso e acelerou o caminhão. A Polícia perseguiu e ordenou que o motorista parasse.

Ao verem o que tinha na carga, foram surpreendidos. Foram encontradas várias crianças mortas. Imediatamente eles acionaram agentes especializados para transportar os corpos das crianças.

Descobriu-se que as crianças mortas não tinham mais os órgãos.

A Polícia Militar conduziu o motorista de nome “Javier Guzman Torres”. Guzman tem 38 anos de idade. Ele disse que não era culpado de matar as crianças e remover os órgãos.

Ele disse que estava apenas [sic.] que foi contratado para fazer o transporte.

Ele disse que os nomes dos responsáveis contratantes são; [sic.] Oscar Castro Herrera 42 anos, Carlos Vagas 36, [sic.] Armando Cabrera Cabrera 29 [sic.]. Suponhas-se [sic.] que a quadrilha opera em diferentes países com o tráfico de órgãos. E que já tenham matado centenas ou milhares de crianças. Talvez essa também seja uma justificativa para o sumiço de várias crianças no México em países vizinhos , [sic.] incluindo o Brasil.

Repleto de erros de grafia e pontuação, item comum em notícias falsas, assim como o tom alarmista, o texto publicado pelo Sociedade Oculta é uma tradução literal da mentira veiculada em 3 de dezembro de 2016 pelo site Tiempo Digital (imagem abaixo). Segundo o site, militares mexicanos interceptaram um caminhão com corpos de crianças mortas e sem órgãos no balneário turístico de Acapulco, no estado de Guerrero, sul do México.

O próprio Tiempo Digital admitiu no dia 9 de dezembro de 2016 (imagem abaixo), no entanto, que a informação era falsa. A foto utilizada nela, que mostrava corpos dentro de um caminhão, fora clicada em 2011, na retirada dos 193 corpos encontrados na cidade de San Fernando, estado de Tamaulipas, norte do país.

Em 2010, na mesma região, 72 imigrantes ilegais que tentavam entrar no estado americano do Texas, incluindo quatro brasileiros, foram mortos. Os assassinatos foram atribuídos inicialmente ao cartel de tráfico Los Zetas, mas depois o governo mexicano admitiu a participação de policiais naquele que ficou conhecido como “Massacre de San Fernando”.

A imagem utilizada pelo Sociedade Oculta para iludir leitores incautos, por sua vez, mostra corpos de crianças sírias, vítimas de um ataque com armas químicas em Ghouta, subúrbio da capital da Síria, Damasco, no dia 21 de agosto de 2013. Segundo o portal da ONG Human Rights Watch (imagem abaixo), a foto foi feita pela Shaam News Network (SNN), agência de notícias síria que cobre a guerra civil no país.

É absolutamente falsa, portanto, a informação de que um caminhão com corpos de crianças sem órgãos foi interceptado por militares no México. Ainda mais falsa é a notícia de que o mesmo grupo estaria atuando no Brasil, o que explicaria os “sumiços de várias crianças” por aqui.

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