Há 44 anos, o Glorioso conquistava sua última vitória fora de casa pela Libertadores. Lá, no distante ano de 1973, o Alvinegro foi a Mondevidéu derrotar o Nacional. O gol da vitória foi marcado por ninguém menos que Jairzinho, nosso eterno ídolo, o Furacão da Copa.
Eis que, quase meio século depois, nosso marcante camisa 7 emprestou seu DNA para continuarmos nossa história. Seu filho, Jair Ventura, foi fundamental para vencermos outro Nacional – desta vez, o Atlético, da Colômbia. O trabalho do nosso técnico é excelente e faz o torcedor sonhar altíssimo.
Em campo, o Fogão fez um primeiro tempo de manual. Segurou o ímpeto inicial dos verdolagas e, aos poucos, ganhou espaço no campo ofensivo. No momento certo, deu o bote e conseguiu o primeiro gol. O padrão tático e a entrega da equipe voltaram a ficar em evidência numa partida decisiva.
O segundo tempo, como todo bom botafoguense já esperava, não foi tão “tranquilo” assim. Perdemos Pimpão – mais uma lesão muscular -, o time cansou e o adversário veio pra cima. Jogando no limite, o Alvinegro foi apertado em seu campo de defesa e não conseguia aproveitar contra-ataques.
Conforme o jogo ia ficando tenso, eu suava frio, tremia e cronometrava quantos minutos faltavam pro apito final. O Botafogo de anos atrás certamente teria deixado essa vitória escapar entre os dedos – mas o Botafogo atual, não. Tanto que o nervosismo do pré-jogo era de ansiedade, não de medo – como, infelizmente, nos acostumamos depois de tantos fracassos recentes.
O time foi valente durante todo o tempo. Alguns jogadores, visivelmente exaustos, tiravam gás do sobrenatural. Talvez Garrincha, Nilton Santos e Heleno de Freitas tenham chegado ao consenso de que, sim, está na hora de sermos felizes. Esse grupo aguerrido não teme a ninguém, faz as deficiências virarem pó e encaram cada dividida como se fosse a última. Bom pra nós.
Quando todo o estádio já aceitava a nossa vitória, o golpe de misericórdia: Guilherme, que conseguiu me deixar rouco em cerca de meia hora, enfim me fez gritar por um bom motivo. Dois a zero no placar. Por mim, por você, por Jairzinho e Jair Ventura. Por tudo o que passamos nos últimos 4 anos. É hora de exorcizar nossos demônios e fantasmas. A América está nos esperando.
O Glorioso venceu, fora de casa, o atual campeão da Libertadores. Junto ao Barcelona de Guaiaquil, abriu seis pontos de vantagem sobre Atlético e Estudiantes. Com essa garra e essa aplicação tática, estamos muito perto de carimbar o passaporte para as oitavas de final, eliminando mais dois times muito tradicionais.
Com a alegria que sinto agora, parece que nunca mais irei dormir. Mas, se for pra permanecer acordado até o próximo jogo da Copa, tudo bem. Nada tem sido mais especial pra nós do que o que ocorre dentro dos 90 minutos. Que essa equipe incrível possa descansar bastante para a guerra seguinte. Próxima parada: Equador.
Ah, é verdade, temos uma “final” no meio do caminho. Boa sorte aos nossos reservas – repetindo a boa atuação contra o Fluzinho, temos todas as condições de levantar essa taça e colocar mais um milhãozinho no bolso.
Saudações Alvinegras!
Notas
Gatito Fernández: 7
Nas poucas vezes em que foi exigido, cumpriu muito bem o seu papel.
Emerson Santos: 8
Surpresa na escalação, fez, talvez, a sua melhor partida pelo Botafogo. Excelente na marcação, fechou bem a lateral e mostrou qualidade e tranquilidade na saída de bola. Que isso sirva para acalmar os ânimos e renovar seu contrato.
Joel Carli: 7,5
Novamente, elevou o patamar de todo o nosso setor defensivo. Organiza a primeira linha de quatro e exerce muito bem sua liderança natural.
Emerson Silva: 8
Continua mantendo o nível lá em cima. De um zagueiro nota 6, vem se tornando peça importante no time titular. Cortou todas por cima e por baixo, mostrando muita segurança.
Victor Luis: 7,5
É raro vê-lo jogando mal. Fechou com sabedoria a defesa, mesmo sem cobertura em alguns momentos. Só subiu ao ataque na boa. Compra ele, Botafogo, nunca te pedi nada!
Rodrigo Lindoso: 7
Importante taticamente, fechou espaços na marcação. Na saída de bola, deixou a desejar errando muitos passes.
João Paulo: 8,5
Difícil eleger um só, mas foi o melhor em campo na minha opinião. Marcou muito, organizou a saída de bola e manteve a tranquilidade do time, sempre com a bola no chão. Linda assistência para o 1º gol. Entrou de vez na briga pela vaga – voltando o esquema pra 3 volantes.
Bruno Silva: 8
Outro que teve excelente atuação. Correu absurdos, marcou demais e apareceu no ataque. Cansou no fim do jogo, deixando alguns espaços pela direita, mas nada que comprometesse o time.
Camilo: 7
Vinha tendo atuação fraca, errando muitas jogadas, mas foi decisivo ao fazer um gol importantíssimo. Que a volta às redes faça bem ao seu futebol.
Rodrigo Pimpão: 7
Abaixo do ótimo nível habitual. Não recompôs com o meio em alguns momentos e não conseguiu a eficiência de sempre no ataque. Espero que a lesão não seja grave.
Roger: 7,5
Importante para segurar o jogo lá na frente, principalmente no 1º tempo. Lutou com a zaga, ajudou na organização e até na marcação. Também foi possível vê-lo orientando o meio-campo, o que mostra boa leitura de jogo.
Guilherme: 6,5
Entrou na vaga de Pimpão e fazia péssima partida, errando passes e dribles demais – inclusive tentando dar chapéu na entrada da área. No entanto, sua estrela brilhou e fez um lindo gol que liquidou a partida. Precisa ser mais responsável.
Fernandes: 6
Entrou na vaga de Camilo para reforçar o meio e teve atuação confusa. Ocupou espaços e auxiliou Victor Luis, mas se embolou com a bola e fez faltas bobas. Parece ter sentido o peso da responsabilidade.
Sassá: sem nota
Com o time muito recuado, não conseguiu ser acionado uma vez sequer para contra-ataque.
Jair Ventura: 10
Não tem outra nota que não seja a máxima para este homem. Tem o elenco cada vez mais nas mãos o joga o nível de competitividade lá em cima. Carrega o DNA vitorioso de seu pai e mostra não ter limites. Esquema tático muito bem definido, com jogadores sabendo o que fazer com e sem a bola. Defesa sólida. Contra-ataque rápido. Com o material humano que tem, faz trabalho incrível.