O número de norte-americanos que apresentaram pedidos de auxílio-desemprego na semana passada atingiu um recorde pela segunda semana consecutiva, superando 6 milhões, à medida que mais jurisdições impõem medidas de isolamento em casa para conter a pandemia de coronavírus, que os economistas dizem ter empurrado economia para uma recessão.
Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego subiram para 6,65 milhões na última semana, ante 3,3 milhões em dado não revisado na semana anterior, informou o Departamento do Trabalho dos EUA nesta quinta-feira (2).
O vírus matou até o momento 5.137 pessoas nos Estados Unidos e infectou 216.722, segundo contagem da Universidade Johns Hopkins.
Entenda os impactos da pandemia de coronavírus nas economias global e brasileira
O coronavírus tem provocado abalos nos mercados globais e paralisado atividades econômicas no mundo todo, com impactos nas cadeias globais de suprimentos e no comércio global, com vários países ampliando medidas restritivas e fechando as fronteiras para tentar frear a propagação da pandemia, o que tem elevado os temores de uma recessão global.
Para vários economistas e observadores, o choque econômico já é maior do que a crise financeira de 2008 e a economia global já entrou em recessão, devendo ser acompanhada por uma disparada do desemprego e sofrer anos até se recuperar das perdas e impactos da pandemia.
Veja a seguir os principais impactos e possíveis consequências do avanço do coronavírus nas economias global e brasileira:
Economia paralisada
A pandemia tem levado governos a determinar o confinamento da população, fechamento de fronteiras e paralisação de todos os serviços considerados não essenciais. Embora o surto tenha começado na China, a Europa e os Estados Unidos se tornaram os novos epicentros do coronavírus.
Para conter a pandemia do novo coronavírus, um terço da população mundial vive hoje sob medidas de isolamento.
Na China, embora parte das atividades estejam sendo retomadas, o coronavírus fechou fábricas e deixou regiões inteiras do país isoladas, com muitos cidadãos trancados em suas casas por medo do contágio, o que reduziu drasticamente o consumo e a produção industrial.
No Brasil, medidas de restrições de circulação de pessoas começaram com a suspensão de aulas e, gradativamente foram sendo ampliadas, com a determinação também de fechamento do comércio e serviços, e com fábricas sendo obrigadas a interromper a produção por falta de insumos ou por medida de prevenção.
Eventos e negócios programados para os próximos meses também têm sido cancelados no mundo todo. Até mesmo a Olimpíada de Tóquio, que seria realizada entre 24 de julho e 9 de agosto próximos, foi adiada para 2021.
Desaceleração da economia global e da China
Para diversos analistas, a economia global não só irá desacelerar em 2020 como também vários países deverão entrar em recessão. Alguns economistas já falam que esta poderá ser a recessão mais violenta da história moderna, talvez pior que a Grande Depressão da década de 1930.
Para Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, ou clube dos países ricos), o choque econômico já é maior do que a crise financeira de 2008 ou a de 2001, e a economia global vai sofrer anos até se recuperar do impacto da pandemia de coronavírus. Um crescimento global previsto para este ano de 1,5%, segundo ele, já soa otimista demais.
A OCDE estima que cada mês de confinamento irá tirar 2 pontos do PIB nas grandes economias.
O Goldman Sachs passou a projetar estagnação nos EUA nos primeiros três meses do ano, contra crescimento de 0,7% esperado antes. Para o 2º trimestre, a estimativa é de contração de uma 0,5%, ante projeção inicial de estabilidade.
Para a China, o Goldman Sachs passou a prever que um crescimento de 3% em 2020, ante projeção anterior de alta de 5,5%. Em 2019, o PIB chinês registrou o menor crescimento em 29 anos, mas mesmo assim teve o expressivo avanço de 6,1%,.
A China é a segunda maior economia do mundo, com uma participação no PIB global da ordem de 18%. E choques da economia chinesa afetam significativamente o Brasil. Vale lembrar que a China é o destino de quase 30% de tudo que o Brasil exporta atualmente.
A dimensão do impacto da pandemia, entretanto, dependerá tanto das medidas tomadas pelos governos, bancos centrais e instituições internacionais como também da duração da crise da saúde.
Cadeias globalmente integradas
O coronavírus traz consequências não só para o comércio global como também provoca impactos nas cadeias globais de suprimentos como um todo, sobretudo para os principais parceiros comerciais chineses.
O fornecimento de bens e serviços é afetado porque as fábricas e escritórios fecham as portas. Como resultado, a produção cai. E, ao mesmo tempo, a demanda também diminui, porque os consumidores ficam em casa e param de gastar.
A China produz atualmente mais de 20% de todos os bens intermediários manufaturados que são consumidos no mundo. O país é um dos principais vendedores de chips, circuitos integrados e outras partes e peças que vão se tornar celulares, máquinas de lavar, televisores e diversos outros eletrônicos em outros países.
A China é a principal fonte de componentes do Brasil. Por aqui, a fábrica da LG e unidades da Samsung e da Motorola tiveram produção suspensas antes mesmo da quarentena determinada pelos governos, por falta de componentes eletrônicos que deveriam vir da China.
Bolsas desabam pelo mundo
A pandemia tem provocada perdas históricas nas bolsas. Nos EUA, as bolsas registraram o pior trimestre desde 1987. No mundo, estima-se aproximadamente US$ 14 trilhões em valor de mercado perdidos, e até ativos seguros, como o ouro, estão sendo vendidos para compensar as perdas.
Entre as ações mais afetadas estão as de companhias aéreas, empresas do setor de turismo, tecnologia e automóveis, mas com o derretimento dos mercados, todos os setores perderam valor de mercado e passaram a rever as projeções e resultados para o ano.
O temor de uma recessão global tem levado os bancos centrais a reduzirem as taxas de juros e a anunciar medidas bilionárias de estímulo e de socorro. Diversos governos passaram a prometer grandes quantidades de dinheiro para reduzir os impactos econômicos da pandemia de coronavírus, mas o sentimento de pânico ainda prevalece nos mercados, uma vez que ainda é difícil mensurar a duração das medidas de restrição.
Empresas projetam lucros menores
Em meio à tensão global, grades companhias como Apple, Microsoft, AB InBev, United Airlines, IAG, Mastercard, Toyota, Danone e Diageo passaram a alertar seus acionistas que o surto afetará seus resultados.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), por exemplo, estima que o setor de transporte aéreo de passageiros pode sofrer perdas de até US$ 200 bilhões em receita este ano, em meio ao fechamento de fronteiras em vários países e uma vez que pessoas em todo o mundo também têm cancelado viagens.
No Brasil, a Petrobras também já adiantou que o resultado financeiro da companhia no primeiro trimestre deverá ser impactado, principalmente em razão da queda no preço internacional do petróleo, e decidiu reduzir os investimentos previstos para o ano, além de cortar a produção e despesas.
Impacto na economia brasileira
As interrupções na atividade econômica e as incertezas sobre o futuro tem provocado abalos no mercado brasileiro. O dólar superou pela 1 vez na história o patamar de R$ 5,25. Já a Bovespa perdeu o patamar de 70 mil pontos, chegando a acumular queda de mais de 40% em 2020. Só em março, as empresas listadas na bolsa perderam R$ 1,1 trilhão em valor de mercado.
As preocupações em torno dos impactos do coronavírus têm pesado nas revisões para baixo nas projeções para o crescimento da economia brasileira em 2020.
O mercado brasileiro passou a estimar retração de 0,48% do PIB em 2020, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, e diversos bancos e consultorias avaliam que o país corre o risco de enfrentar uma nova recessão.
Soja, minério e carne
Do lado da exportação, o principal impacto de curto prazo tem sido nos preços das principais commodities vendidas pelo Brasil. As cotações da soja, do petróleo e do minério de ferro têm recuado diante do temor de uma desaceleração da economia chinesa e de uma recessão global.
A soja representa cerca de 30% de tudo o que o Brasil exporta para a China, seguido de petróleo (24%) e minério de ferro (21%).
As exportações de carne brasileira para a China, que estavam em alta depois de a peste suína africana atingir a oferta de carne do país asiático desde meados de 2018, também devem ser afetadas.
A maior preocupação é de que o surto se estenda por muito tempo ou uma desaceleração ainda mais forte da economia chinesa.
POr G1