A crise na segurança pública no Espírito Santo chega ao seu quarto dia sem uma perspectiva de desfecho da “greve branca” da Polícia Militar. Enquanto o movimento dos familiares e amigos de militares continua em frente aos batalhões, o governo do Estado sobe o tom contra os manifestantes. Sem o esperado diálogo entre as partes, o policiamento nas ruas está desde o início da noite de segunda-feira (6) a cargo de tropas do Exército e da Força Nacional, que foram deslocadas para solo capixaba.
No entanto, os registros de violência se multiplicam na Grande Vitória e no interior do Estado. Até o momento, o número de homicídios já passa 75, além de centenas de registros de furtos, roubos e saques ao comércio. Enquanto o impasse segue, a população permanece trancada em casa, os ônibus começam a circular de forma tímida, e as instituições não funcionam – órgãos da Justiça e Assembleia Legislativa estão com expediente suspenso.
Na manhã desta terça-feira (7), um vídeo divulgado nas redes sociais por policiais militares, que simulam a tentativa de saída de um batalhão – sendo impedidos por um grupo de manifestantes –, causou repercussão. Em entrevista à imprensa local, o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, classificou o movimento como irresponsável. “Uma corporação com mais de 200 anos que está tendo a imagem jogada na lama”, afirmou.
O secretário classificou o vídeo como uma “encenação mal feita” e que já ordenou ao Comando da PM a apuração da responsabilidade dos envolvidos. Garcia afirmou que a ordem é para que os militares se apresentem diretamente no local de trabalho e não nos batalhões, cujas entradas são ocupadas por parentes dos policiais. “Isso vai ter consequência para quem pensa que vai sair impune”, ameaçou o titular da Sesp.
As ameaças de Garcia aos militares já haviam sido criticadas no transcorrer da atual crise. Nessa segunda, os oficiais da Corporação publicaram uma carta ao governador em exercício, César Colnago (PSDB), pedindo a reabertura dos canais de negociação. No texto, eles acusaram o “estilo de governança” do governador Paulo Hartung (PMDB) e o próprio secretário de causarem o afastamento entre a PM e o governo do Estado.
Outra ação questionada foi a exoneração do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Laércio Oliveira, que ficou apenas 21 dias no cargo. Nos bastidores, a mudança no comando foi motivada pela recusa do ex-comandante em agir para acabar com o movimento paredista. Desde que assumiu o posto, o coronel Nylton Rodrigues tenta imprimir uma postura diferente na busca de regularização do policiamento, como a ordem aos militares para a realização de rondas a pé, porém, a crise na segurança pública continua.
Sobre a retomada das negociações, Garcia afirmou que o governo não acabou com o diálogo, apesar de ter dito que só voltaria a conversar sobre as reivindicações do movimento após o retorno dos PMs às ruas. Segundo ele, os representantes de familiares dos policias foram recebidos por dois representantes do governo, mas não obteve sucesso. O movimento exige o reajuste dos salários dos militares – defasados há sete anos –, como prevê a Constituição Federal. No entanto, o governo alega que não tem recursos para a reposição salarial de todo o funcionalismo público.
Fonte: Século Diário