Motociclista acusado injustamente de roubo implorou para mulher de PM falar a verdade

Rio – Na saída do presídio em Benfica, na Zona Norte, o motorista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves, de 24 anos, disse que implorou para que a mulher que o acusou injustamente de roubo dissesse a verdade. Josilene da Silva Souza, companheira do policial militar reformado Carlos Alberto de Jesus, disse ao marido e aos policiais que Thiago e o influenciador do Botafogo, Igor Melo de Carvalho, haviam roubado seu celular na noite de domingo (23).

Muito emocionado, Thiago detalhou como foi abordado pelo PM. “Ele parou do meu lado e apertou o gatilho. Minha reação foi me jogar no chão. Ele ainda voltou para matar a gente”, lembra. Na delegacia, ele revelou que Josilene manteve a acusação. “Ela apontou o dedo na minha cara e disse: ‘Foi ele que me roubou’. Eu me ajoelhei e falei: ‘Olha na minha cara, você sabe que não fui eu. Por que você está fazendo isso? Você disse que, se tivesse oportunidade, daria um tiro na minha cara’. Mas eu não fiz nada. Está aí a prova de tudo. Eu só me ajoelhei na minha vida para Deus e para ela”, afirmou.

Thiago foi recebido pela família e pelo advogado, Carlos Nicodemos, cerca de duas horas depois que a Justiça do Rio determinou sua soltura e a de Igor, que estava internado sob custódia. O influenciador segue hospitalizado e perdeu um rim. Seu estado de saúde é considerado grave. Pai de dois filhos, um de 2 anos e outro de 8 meses, Thiago havia acabado de iniciar a corrida de Igor quando ambos foram perseguidos pelo PM. Nenhuma prova do roubo foi encontrada com ele.

A Polícia Civil segue investigando a ocorrência por roubo e, nesta terça-feira, passou a apurar o caso também como tentativa dupla de homicídio. Na decisão que determinou a soltura de Igor e Thiago, a juíza Rachel Assad da Cunha, da 29ª Vara Criminal da Capital, acolheu um pedido da defesa e encaminhou cópias do processo à Promotoria de Investigação Penal e à Corregedoria da Polícia Militar, que poderão apurar a conduta do policial da reserva.

Família fala em racismo
Para Marina Moura, companheira de Igor, o caso revela um racismo “escancarado”. “É um racismo estrutural escancarado que ele teve que pagar com o sangue, mas tenho certeza que ele vai ser um símbolo para que isso não aconteça. Eu sempre espero ele chegar, quando demora um pouquinho, eu ligo, mas dessa vez não foi a ligação dele que eu recebi, foi do sócio da casa de samba informando que ele estava aqui no Getúlio Vargas. Ele está sendo tratado como bandido, está sob custódia, estamos tentando derrubar isso, para eu poder ter acesso a ele”, lamentou.

Marina explicou que em princípio achou que o caso se tratava de uma tentativa de assalto, mas foi surpreendida pela acusação de roubo.

“Quando eu cheguei aqui, não sabia nem se ele estava vivo. Ele conseguiu pedir ajuda a uns amigos dele, que foram até ele e o socorreram. Apesar do tamanho da cirurgia, ele está bem, mas muito agitado, acorda a todo momento dizendo que não tem culpa de nada. Quem conhece o Igor sabe que ele é trabalhador, ele trabalha como inspetor na faculdade, na casa de samba, como ambulante no Carnaval, ele cata e vende latinhas, ele quer sempre dar o melhor para nós. O sonho dele é ser jornalista”, disse.

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