Depois de três meses em queda, a produção industrial brasileira cresceu 0,8% em agosto, na comparação com julho, segundo divulgou nesta terça-feira (dia 1º) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do melhor resultado para meses de agosto desde 2014, quando a alta foi de 0,9%.
O crescimento registrado em agosto é também o melhor resultado mensal desde junho do ano passado, quando houve avanço de 12,6%, na comparação com o mês imediatamente anterior.
Segundo o IBGE, a recuperação em agosto de 2019 foi puxada pela indústria extrativa, que cresceu 6,6% no mês, impulsionada pelo aumento na extração de minério de ferro, petróleo e gás.
“Esse é o crescimento mais intenso desde junho do ano passado e interrompe uma sequência de três meses de queda da produção industrial, que acumularam perda de 0,9%. Portanto o avanço observado neste mês elimina uma parte importante daquela queda acumulada”, destacou André Macedo, gerente da pesquisa.
Setor ainda tem queda de 1,7% no ano
Apesar de a indústria ter voltado a crescer, o ritmo de recuperação ainda é menor que o registrado no ano passado.
Na comparação com agosto de 2018, a produção caiu 2,3%. No acumulado nos nove primeiros meses do ano, o setor ainda tem queda de 1,7%. Em 12 meses, a produção industrial mostra uma perda ainda maior de ritmo, ao passar de -1,3% em julho para -1,7% em agosto, permanecendo na trajetória descendente iniciada em julho do ano passado.
“Este resultado está longe de recuperar as perdas acumuladas no ano e também não significa que o setor industrial esteja começando uma trajetória de crescimento, até porque a alta de agosto está concentrada em poucas atividades”, afirmou André Macedo.
Em termos de patamar de produção, Macedo destacou que a indústria opera 17,3% abaixo do pico de produção, alcançado em maio de 2011. É como se o setor operasse no ritmo em que se encontrava dez anos atrás.
Para iniciar uma trajetória de crescimento, a indústria também depende, segundo o pesquisador, de uma recuperação efetiva do mercado de trabalho.
“Embora venha sendo captada uma melhora no mercado de trabalho, a gente ainda tem um contingente grande fora dele. Além disso, a qualidade dos postos gerados caminha mais para informalidade, com salários mais baixos, o que não traz aumento da massa salarial e acaba não contribuindo com a demanda doméstica para que tenhamos impulso na retomada da produção industrial”, observou.
16 dos 26 ramos pesquisados registraram queda
Segundo o IBGE, apenas 10 dos 26 ramos pesquisados registraram alta na produção, o que mostra que a recuperação registrada em agosto foi concentrada em poucas áreas, com destaque para as indústrias extrativas – elas avançaram 6,6%.
Foi a quarta alta seguida na produção do setor extrativo, acumulando ganho de 25,2% no período e eliminando a perda de 24,2% acumulada nos três meses anteriores, em meio aos impactos da tragédia de Brumadinho (MG) na produção da Vale.
Os outros impactos mais relevantes no resultado de agosto vieram a produção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,6%) e de produtos alimentícios (2%).
Na outra ponta, as maiores quedas foram registradas pelos ramos de veículos automotores, reboques e carrocerias (-3%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,4%), máquinas e equipamentos (-2,7%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-4,9%).
Entre as grandes categorias econômicas, bens intermediários foi a única que registrou alta (1,4%), sustentada pelo crescimento das indústrias extrativas.
O pior resultado foi o do setor de bens de consumo duráveis, que recuou 1,8%, pressionado pela queda na produção de automóveis. Os segmentos de bens de consumo semi e não duráveis e de bens de capital também ficaram no negativo, ambos com queda de 0,4%.
Recuperação lenta e perspectivas
A indústria tem sido afetada em 2019 pelo ritmo mais fraco de recuperação da economia e também por fatores adicionais, como a queda das exportações para a Argentina, devido à crise econômica no país vizinho.
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o excesso de estoques foi reduzido em agosto, mas que os índices de expectativa de demanda, de quantidade exportada e de investimentos permanecem em queda.
Para o consolidado de 2019, os economistas das instituições financeiras projetam uma queda de 0,54% na produção industrial, segundo pesquisa Focus do Banco Central. Para o resultado do PIB de 2019 do Brasil, a previsão atual do mercado é de uma alta de 0,87%.
Segundo Gabriela Fernandes, economista-chefe da Gauss Capital, a expectativa é de “recuperação gradual da economia ao longo do último trimestre do ano, impulsionada pelo consumo e beneficiada por uma redução da incerteza após a aprovação final da reforma da previdência e da liberação dos saques do FGTS ao longo dos próximos meses”.